terça-feira, 1 de setembro de 2015

Sob o Sol da Toscana: Emoção com razão


"[...] Porque sabiam que, algum dia, o trem chegaria."

Quando um filme consegue expressar com extrema leveza todo o dilema, as dúvidas e confusões que vivenciamos no cotidiano, a história acaba se tornando especial. Com toda essa firmeza e sensibilidade, Sob o Sol da Toscana faz este trabalho - voando entre as incertezas da rotina e uma personagem que é facilmente confundível com qualquer um de nós, o longa expressa sutileza e emoção em doses homeopáticas, falando de expectativas, lutas diárias, mudanças necessárias e muito amor por si mesmo. Que tal conferir?

Baseado no livro homônimo que se tornou famoso às palavras de Frances Mayes, Sob o Sol da Toscana é um filme carismático, capaz de envolver a mais inquieta das mentes mesclando emoção e razão em lapsos encantadores. Somos apresentados à história de Frances, uma escritora recém-divorciada que resolve viajar para a Toscana após um empurrãozinho da melhor amiga Patti e acaba redescobrindo a vida de outro lado do mundo, alterando completamente seu estilo de vida para descobrir sua própria essência. Sempre apaixonada pelas palavras, as dificuldades de Frances são descritas por uma narração que soa como um diário, capaz de trabalhar seus passos a partir de muitas impressões pessoais e contextuais da personagem.


Livremente dispostos ao lado de Frances em sua jornada, somos guiados entre sua viagem a partir de uma perspectiva sensível, numa linha tênue entre o medo e a esperança. Movida à sua própria frustração, a personagem desenrola sua história ao explorar seus sentimentos mais obscuros e recriar suas próprias intenções - objetivos, metas e sonhos são amplamente modificados pela protagonista ao longo da narrativa. Com fotografia amigável, extremamente charmosa pelos sempre incríveis cenários italianos, o filme chama a atenção não só pela história, mas sim pela vista ao redor - é importante, ao assisti-lo, lembrar-se de apreciar bem os detalhes e deixar-se mover pelos 113 minutos. Muito além de mensagens positivas, o filme ilustra nossas próprias histórias em um contexto único.

Fugindo do clichê, temos amor, mas não em demasia - o amor em enfoque neste caso é o amor próprio, cujos ensinamentos são dolorosos, mas valem a pena. Durante uma trilha sonora familiar, que parece casar tão bem com o enredo quanto a atriz Diane Lane no papel de Frances, podemos apreciar cada momento com muita cautela. Mesmo classificado como comédia romântica (e realmente arrancando boas risadas), o longa exalta muito mais o drama do que o humor. Não um drama cansativo, mas uma humanidade contagiante - no mesmo clima de Comer, Rezar, Amar, o filme em questão consegue motivar sem ser maçante. Motivação, tentativa, erguer a cabeça e continuar seguindo... Se tivesse uma chance, você aceitaria tomar um caminho oposto e resolveria virar a sua vida inteira de cabeça para baixo? 


A sensação pós filme é de renovação, no mesmo ritmo desenvolvido pela personagem, que tenta se perder para enfim conseguir se reencontrar constantemente. Ao assisti-lo pela primeira vez, é importante evitar se deixar levar pelo rótulo, pois muito além de seu gênero, o filme consegue levar diversos pensamentos e condições em uma única história. Com muita expressividade, Diane conseguiu uma bela indicação ao Globo de Ouro na época de lançamento do filme, justificando seus bons modos nas telas. Longe de revolucionar o cinema contemporâneo, sua atuação chama a atenção e comove, inspirando nossos passos em nossas próprias trajetórias dentro e fora da rotina. Somos humanos, carregados de bagagens em erros, acertos e dúvidas. Frances consegue nos mostrar isso tão bem que parece refletir nossos próprios anseios. 

Temos Diane Lane (O Homem de Aço) como protagonista, além de Sandra Oh (Grey's Anatomyyyyy) como Patti, Lindsay Duncan (Margaret Tatcher) como a misteriosa e sedutora Katherine e Raoul Bova (italiano perdido em O Turista), ou Marcello, o arrasa-corações da história. O elenco naturalíssimo e amplamente humano é dirigido por Audrey Wells, que também trabalhou no roteiro e na produção do longa. A italiana também dirigiu A Lente do Desejo, em 1999.


Como indicação pessoal (diretamente da minha lista de favoritos), Sob o Sol da Toscana é um filme agridoce, ideal para promover a reflexão sobre nossas decisões e entender a perspectiva da vida no equilíbrio entre coração e mente. Viver em função de extremos não é a melhor opção, afinal, somos humanos e dependemos de ambas as partes, sempre envolvendo diferentes objetivos e aspirações. O sucesso é perspectiva... Tudo que queremos pode surgir de uma hora para a outra, transformando o mundo ao redor em felicidade. Afinal, como Frances afirma, "a vida nos oferece mil chances... tudo que precisamos fazer é aceitar uma". Na primeira oportunidade, assista! ;)

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