É curioso o quanto o mundo tem se tornado especialista em qualquer tipo de assunto nos últimos anos. Não sei se foi a acessibilidade da tecnologia ou uma falta de bom senso generalizada, mas todos nos tornamos mestres da crítica pela internet afora. Segundo a definição padrão, Crítica de Cinema seria o exame de um filme, uma comparação final sobre uma peça na análise de quesitos como a verdade, a beleza, entre outros. Seria a crítica, então, o ponto final para julgarmos uma obra? Ou seria esta apenas uma referência para servir de incentivo a ir aos cinemas?

Em anos tenho escrito sobre filmes, a julgar pelo modo como admiro a sétima arte desde pequena e como endoideço só de pensar sobre um título novo para estrear. Seja em sites apropriados, redes sociais ou páginas do Word, minhas críticas pessoais tomaram forma e constituíram opiniões abstratas sobre diversos gêneros. Agora, observando de fora, tento entender como seria possível acreditar que meus textos deveriam servir de exemplo ou guia absoluto a alguém.
Até hoje a crítica cinematográfica se apresenta como parte influente pós-produção de uma obra, unindo o espectador à indústria ao inserir forma e contexto no diálogo sobre a arte. Seja esta amadora ou profissional, com intuito tanto opinativo quanto informativo, a crítica estabelece critérios e firma conceitos, demonstrando mais do que é expresso nas telas e traduzindo o trabalho aos olhos ditos como leigos, que buscam pelas receitas do filme perfeito.
Acontece que a crítica é muito relativa. Um mesmo filme pode servir para diferentes propósitos entre eu, você e mais tantos admiradores do cinema com nomes e endereços variados. Uma única peça pode - e deve, afinal, o principal papel da arte como um todo é gerar reflexões sobre diferentes assuntos e aspectos da vida - influenciar e refletir de diferentes formas aos olhos de quem o assiste. Se todos criamos perspectivas diferentes sobre cada longa que vemos, como podemos presumir que uma crítica deve influenciar no gosto individual de cada um desses inúmeros espectadores?
Seja construtiva ou destrutiva, uma crítica não deve servir nunca de parecer final. Os figurões dos grandes jornais vão ressaltar bilheterias, os líderes da internet vão falar de péssimas histórias e os próprios artistas irão glorificar qualquer filme como "a obra de suas vidas", comparando-se com ídolos hollywoodianos. Com tantos interesses e pareceres embutidos, não vale a pena se basear numa única crítica para formar um ponto de vista. No fim das contas, gosto se discute - ainda por cima se for consigo mesmo!
Todos podemos ter opiniões e divulgá-las ao mundo, pois uma obra, seja ela cinematográfica ou de qualquer outra natureza, nasce para ser admirada, dissecada, analisada e discutida. Porém, é fundamental compreender a fragilidade que existe na relação entre o crítico e sua vítima [a obra]. Mesmo sendo uma fundamentação valiosa, esta não pode servir jamais como alicerce de opinião. O mesmo filme que está entre os meus favoritos pode ser descartável a você, e vice versa.

As comédias são frequentemente massacradas pelos grandes críticos, mas não entendo como alguém é capaz de quantificar a qualidade deste gênero. Seria possível contar quantas risadas, em média, um grupo de espectadores deu em cada filme para assim julgá-lo entre cinco míseras estrelas? O humor, assim como tantos outros gêneros do cinema, é feito de autenticidade e espontaneidade, e não pode ser classificado de forma generalizada a partir de uma análise de "quem riu mais". Comédias têm que ser engraçadas, e só! Não é automaticamente boa ou ruim por ter sido mais engraçada para mim do que para você. Uma indicação ao Oscar não torna um filme maravilhoso, assim como uma piada não torna a comédia única.
A crítica não deve servir como base para criar um pensamento sólido sobre um filme, mas sim como um empurrão para assistir a obra e ver com seus próprios olhos o que foi descrito pelo outro. Ela deve incentivar sua curiosidade sobre determinado longa, para que assim possa vê-lo e identificar seu ponto de vista sobre tal com suas próprias convicções. Ninguém forma um gosto antes de provar o prato e ver se este realmente vale o dinheiro gasto, mesmo quando todo mundo diz que é gostoso. Precisamos explorar a crítica e usá-la como argumento para investigar um filme.
A interpretação do cinema é uma arte curiosa, que pode vir de qualquer pessoa disposta a olhar para a tela sem assistir apenas às imagens explícitas. O ser crítico deve olhar a uma obra com mente aberta, disposto a entender como funciona um filme e qual o resultado que o mesmo propõe ao observador. Captar mensagens, discutir os diálogos, observar a continuidade, admirar a fotografia, encaixar a trilha sonora... Ser espectador é uma tarefa difícil, que no fim das contas torna todos nós meio críticos de cinema.
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