quinta-feira, 20 de agosto de 2015

Opinião: O dilema das adaptações

Como qualquer leitora assídua dos gêneros românticos, presenciei nos últimos tempos uma série de livros que estavam em minha estante de favoritos virarem histórias coloridas nas telonas. Passando desde títulos atuais, como A Culpa é das Estrelas e Se Eu Ficar, até clássicos como Clube da Luta e Laranja Mecânica, o que devemos pensar das adaptações? Será que o livro sempre será melhor que o filme? Como analisar uma história da melhor forma possível, levando em conta as versões impressas e peças cinematográficas? A licença poética para as adaptações também está valendo? Vem ler para tirar a dúvida! ;)




Meu amor pelo cinema começou a valer mesmo quando pequena, na vez em que assisti Procurando Nemo no Cinemark, em sua estreia (voltem sua mente para 2003). Já tinha ido ao cinema muitas vezes antes daquela tarde, mas esse é o meu primeiro registro de filme guardado na lembrança, e a memória reaviva a ideia de que animações me incentivaram fortemente a buscar pelos filmes reais - além dos desenhos, queria saber se as histórias "de verdade" também eram tão boas assim.

Com as pessoas nas telonas, amadureci. Observava as histórias e agora afirmava com total certeza que todas elas eram reais. Com o passar dos anos, fui ainda mais longe em minhas pesquisas e descobri que todo o potencial cinematográfico derivava de outra belíssima arte: A literatura. Apaixonada pelas palavras, devorei roteiros, resenhas, poesias, livros, arte. Estava sempre me concentrando nos textos para entender o potencial dos filmes. 

"Odiei as palavras e as amei, e espero tê-las usado direito."

No momento inicial de análise comparativa, percebi que os filmes cortavam a informação - nas primeiras adaptações que acompanhei, me perguntava "porque é que aquela personagem está ali se ela nem existe no livro?" ou "como aquele cara voltou se no livro ele morreu logo nos primeiros capítulos?". As dúvidas não paravam de soar e logo alcancei a indústria cultural para finalmente compreender o porquê dos longas serem tão diferentes das histórias originais.

Todo o potencial comercial que existe na jogada, de início, me parecia um crime contra a história. Como poderiam mudar completamente a forma de um cenário para chamar mais atenção, ganhar mais dinheiro? Se a original me atraiu, com certeza todo mundo ia gostar também. Que injusto, que ridículo, que vendido. As adaptações são um ato de crueldade contra os filmes.

Com mais cautela e maior observação, percebi um ponto de escape nessa teoria rasa - as histórias continuavam sendo reais. Sejam elas completas, unilaterais, visionárias ou cautelosas, eram as mesmas bases como matéria. Ora, seria impossível tornar O Drácula tão detalhado e misterioso num filme, afinal, a graça de compreender o mistério é o ler das entrelinhas! Toda a emoção descrita nas linhas de histórias como A Menina que Roubava Livros e O Menino do Pijama Listrado não poderiam estar tão bem expressas nos longas correspondentes. Um filme não poderia nos dar tudo de mão beijada - teria que expressar uma visão, inserir um contexto e abordar a narrativa de outra forma, nos deixando a margem de diferentes opiniões sobre o mesmo. 


Não defendendo as adaptações, afinal, existem erros e cortes imperdoáveis - a modificação de alguns detalhes certamente compromete todo o conteúdo, causando o maior dos maiores ataques de nervos ao fã envolvido com aquela leitura. Felizmente, algumas modificações são benéficas - o perfil do próprio personagem acaba muitas vezes diferente do esperado, mas e o gosto da surpresa? Não é bom se envolver em outra realidade além do livro? Vejam Katniss, a protagonista da saga Jogos Vorazes - podemos traçar diferentes visões sobre a Srta. Everdeen, mas ambas são igualmente cativantes, fortes e coerentes.

Existem ainda os casos em que o filme consegue ser melhor que o livro. Exemplo? O Lado Bom da Vida. A maioria dos leitores que conheço concordam com essa afirmação. Conseguindo explorar melhor os personagens, o longa é muito mais dinâmico, sensível e expressivo do que o livro, que se limitou ao olhar confuso do protagonista, criando uma leitura maçante e até enjoativa. Outros exemplos, ao meu ver, seriam Diário de Uma Paixão e Água para Elefantes. Os filmes também podem salvar as histórias de livros não tão envolventes.

Nisso que temos que nos prender: O filme irá sempre além do livro. Muitos pecam pelo excesso ou pela restrição, mas alguns títulos conseguem expressar com sutileza as nuances da literatura. Ele mostra uma realidade diferente do que lemos e adoramos, podendo expressar um trecho, desenvolver um sentimento ou mostrar a outra visão de um personagem. Adaptações 98% fieis como Clube da Luta, O Silêncio dos Inocentes e O Poderoso Chefão são orgulhos notáveis, mas até as mudanças saudáveis em Orgulho e Preconceito, As Vantagens de Ser Invisível e Cidades de Papel fazem jus ao sentimento embutido pela história. Podemos olhar a mesma obra com outros olhos, sentir tudo de novo e ainda sentir novas emoções. Adaptações são uma forma de manter as histórias sempre modernas, com novas interpretações.


A melhor maneira de aprovar ou desgostar uma história seria ler o livro e assistir ao filme ou à série, observando-a de todas as perspectivas. Uma narrativa não é melhor que a outra, mas demonstra diferentes aspectos do mesmo conteúdo em formatos variados. Se você já acompanhou pelo menos um episódio de Once Upon a Time, a série que relaciona todos os contos de fadas em apenas uma realidade, pode entender o que estou dizendo: Mesmo ao colocar Rumplestiltiskin como uma fera indomável, podemos observar seu lado mais sensível, muitas vezes contido nas histórias dos livros. É uma oportunidade válida de apreciar uma história por duas esferas variadas, ou até por múltiplos lados. Além de tudo, é essencial usar sua imaginação para recriar a história! Nós também podemos adequar um roteiro às nossas percepções.

Por isso, a dica é não ir ao cinema criando expectativas sobre o livro. Deixe-se encantar de novo pelos personagens que tanto adora e se emocione pelos contrastes! Se personagens vivem ou deixam de existir, como nas impiedosas adaptações de Diário de um Vampiro (da série The Vampire Diaries) ou a confusão com Percy Jackson, teremos que suportar entre protestos, mesmo que acabemos escolhendo livro ou filme. Às vezes, porém, uma mudança pode tornar a trama mais intrigante. A graça de uma história é nunca prever o que vai acontecer... E poder mudar de percepção ou conclusão sobre um assunto. Quem sabe se ver algo diferente você não tem a chance de se apaixonar pela segunda vez por uma mesma história? Não deixa de conferir uma adaptação com medo da diferença - o importante é explorar a realidade de cada enredo com todas as perspectivas possíveis! :)

Aqui, uma lista de adaptações que você pode curtir entre ótimas histórias, além das indicações citadas no texto:

Entrevista com o Vampiro - Alice no País das Maravilhas - Precisamos falar Sobre Kevin 
Ilha do Medo - A Teoria de Tudo - Simplesmente Acontece - O Diário de Bridget Jones 
Os Delírios de Consumo de Becky Bloom - O Hobbit - Senhor dos Anéis - Harry Potter - O Iluminado 
A Lista de Schindler - O Lobo de Wall Street - Anna Karenina - O Jogo da Imitação 
Querido John - Um Sonho de Liberdade - Trainspotting-Sem Limites 
Os Três Mosqueteiros - A Sangue Frio - Marley & Eu 
O Grande Gatsby - À espera de um milagre

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