quarta-feira, 12 de agosto de 2015

O Show de Truman: Todo drama da vida real


"Que fim terá?"

Você já parou para pensar se sua vida é assistida e controlada pelas vontades e desejos alheios? É isso que Truman Burbank, o personagem principal de O Show de Truman, começa a se perguntar. Quando é pego de surpresa em um dia comum da rotina em Seaheaven, ele começa a levantar dúvidas sobre a veracidade de sua existência. Como a história de muitas e muitas vidas (ou o próprio show da vida), o longa descreve com sutileza e dedicação a trajetória dos que vivem em função de terceiros em tempo integral, mesmo que não saibam disso logo de cara. Confira a resenha completa sobre O Show de Truman:



Todos temos dias em que acordar e levantar da cama parece o ponto de partida para um roteiro pré-estabelecido, um ensaio de uma peça que já foi encenada milhares de vezes. Das tarefas mais simples, como comprar o mesmo jornal todos os dias ou tomar café no mesmo lugar por muitos anos, nos tornamos escravos de nossa rotina sem nos darmos conta. Quando percebemos, as coisas podem parecer muito fora de lugar - podemos sentir na pele a terrível impressão de que estamos apenas cumprindo ordens. Será que estão nos assistindo o tempo todo?

Truman tem sua conformidade virada do avesso quando um refletor de luz cai em frente à sua casa, sem causa aparente. Sem uma explicação convincente para justificar o ocorrido, ele fica com esse fato preso na cabeça. Aos poucos, nosso personagem é conduzido à duvidar sua própria existência - e também tudo que há por trás dela, indagando se estaria sendo vigiado e porque. Truman vive num Reality Show: O mundo inteiro parecia saber disso, mas ele não fazia a mínima ideia.


A princípio, essa proposta nos remete um pouco à ideia de estar sendo assistido em cada movimento. Muitas vezes acabamos tendo a sensação de sermos vigiados por todo tipo de gente, seja por condição social ou por mera coincidência em ambientes de trabalho, acadêmicos, entre outros. Além da esfera óbvia, nossa segunda reflexão voa perante ao mecanismo de funcionamento da vida: Quando as opções se tornam automáticas e quando esquecemos de fazer as coisas que queremos no modo manual? Perder o controle sobre sua própria vida e ser um modelo básico de praticidade, sem questionamentos ou desejos, seria uma coisa tão impossível de acontecer?

São diferentes as percepções representadas pelo filme, e acredito que depende muito do espectador julgar quais as principais mensagens que recebeu ao assisti-lo. Particularmente, a julgar pelo caráter do personagem e toda sua progressão durante o longa - a medida que vai descobrindo a verdade e procurando respostas convincentes para suas perguntas que estavam há tanto tempo silenciadas -, tenho como principal mensagem a questão do planejamento de vida. O quanto perdemos por esquecer de tomar as decisões, e como as rédeas escapam por entre os dedos enquanto tentamos dar o rumo certo às nossas jornadas.


Burbank, interpretado por Jim Carrey, que se saiu muito bem nos quesitos de expressão e interação com o contexto, é um homem pacato, simples e humilde, que costuma tomar as decisões certas e sempre tenta agradar a todos ao seu redor. A esposa Meryl, revelada pela inquietante atuação de Laura Linney, é a mulher dos sonhos de todos os homens e faria tudo que Truman quisesse. Entre os dois, porém, existe Sylvia, ou Lauren (Natascha McElhone, de Californication), a mulher dos sonhos de Truman que desapareceu misteriosamente de sua vida após um encontro às escuras. Como esse romance haveria de acabar, seguindo os princípios de Christof (Ed Harris, conhecido pelo longa Caminho da Liberdade, além de outros papeis de destaque) e sua equipe? Garanto que se você já gostava do protagonista em seus filmes de comédia, vai se apaixonar ao vê-lo em um papel de contraste, com tons intercalados de drama e humor leves. 


Toda a sensibilidade e o desespero de Truman em descobrir a verdade, por pior que ela fosse, é o que prende a atenção do real espectador a cada cena. Com uma cronologia inteligente, que mantém sua mente alinhada com a história contada, o filme atravessa todas as intempéries com total coerência, sempre estimando pela organização e sincronização ideal. Além de um formato interessante, o roteiro em si é uma peça autêntica, que consegue explorar tanto o prazer quanto a desgraça de viver em uma realidade incorporada. Se todos tivéssemos uma chance de buscar pela verdade e perseguir nossos sonhos, seria que assim faríamos? 

Será que existe um controle divino sobre nossas vidas ou somos nós mesmos que controlamos uns aos outros? Os destinos realmente estariam traçados desde o começo? Acredito que sempre temos uma chance de mudar de direção, aproveitando oportunidades ou até mesmo resgatando causos do passado. Se tem uma coisa na qual O Show de Truman é bom, seria em desencadear séries infinitas de perguntas em sua mente - pode ter certeza de que você acabará o filme com várias perguntas em mente.


Por fim, deixo registrado meu interesse pelo olhar dos espectadores de dentro do filme - os grandes fãs do Show de Truman. É revelador parar para pensar no quanto gostamos de acompanhar a vida dos outros, seguindo seus passos e até comparando-os com nossas próprias vidas. Se somos todos espelhos de nós mesmos, não haveria de ser diferente, pois com a eterna ideia de que a vida imita a arte, todos viveríamos nossos próprios Shows de Truman. 

Além da proposta interessante, o que você mais gostou no Show de Truman? Deixa aí nos comentários a parte mais absurda do filme! Será que a história se aplica à vida real ou é tudo apenas um filme? ;) 

Um comentário:

  1. Eu acho incrível como que o filme deixa várias mensagens para quem está assistindo refletir e o modo que cada um decide a ideia mais importante pra si.
    Tudo que o Show de Truman mostra está muito bem ligado a nossa vida, seja a rotina, os padrões de vida estabelecidas pela sociedade, nossos sonhos a vontade de ser espontâneo, o questionamento sobre um ser divino, o direito de privacidade e o limite da curiosidade de cada um sobre a vida do outro. Sutilmente, filme liga tudo isso.
    A ótima atuação do Jim Carrey também é surpreendente. Estamos acostumados encontrar o ator em grandes filmes de comédias, fazendo várias loucuras. Porém, encontramos um personagem completamente diferente, mas que não deixa de ser uma boa interpretação.

    ResponderExcluir